8.11.10

O Sentido da Vida.

Retirado da compilação Laertevisão
Outro dia, não mais que duas semanas, acordei e fui lendo vários artigos em sites de revistas, acompanhado da minha caneca meio de café preto. Parei na Bravo! procurando por alguma coisa sobre os Titãs, mas acabei achando outra coisa.
Fui tentado a ler uma entrevista com o cartunista Laerte Coutinho. Mesmo sem ligar de imediato o nome a pessoa, confesso que não resisti em entender porque diabos o cartunista estaria ali vestido de mulher.
Enfim...
Com o Laerte, não sei o que passa. As mentes que se julgam mais sensatas tendem a dizer que o fator causa do cartunista se comportar de modo arredio para com sua obra e a pratica do cross tem fundamento na perda do filho. De fato, ver o filho morrer deve ser uma dor incomensurável para qualquer pai, mas não acredito que Laerte tenha ficado maluco. Acredito sim que isto tenha sido uma grande pedra, amontoada a outras tantas que o fizeram pensar no real sentido da vida.

Video-entrevista com Laerte para a revista Bravo!, falando sobre o Crossdressing

Voltando, este miolo foi que ficou zumbindo na minha cabeça. Laerte, 40 anos de carreira tem a coragem de dizer na minha cara que não tem mais tesão pelo que faz. Quadrinhista era meu sonho de moleque, sonho que desencantei de pensar nas (im)possibilidades técnicas e de mercado. Claro que não foi algo que atrofiei por medo do risco; nem botei na mesma gaveta onde guardei os sonhos de ser astronauta, magico de circo e fuzileiro americano. Se bem que bonzão nunca fui, mas isso não me impediu de extravasar minha vontade de criar e dar formas a personagens, e nessa parte agradeço meu grande amigo Matheus (uma grande historia que fica pra mais tarde).
Assumi minha predileção pelo traço estilizado, por mais que eu descenda da escola das comics americanas, vai ao encontro com a suavidade do Laerte. Obviamente eu já tinha esbarrado com obras notórias dele, como o Piratas e Overman, mas me recordo muito bem que a primeira serie de tiras que acompanhei de cabo a rabo foi "O Manual do Minotauro" publicada na Folha, lá por 2008.


O problema está em que Laerte seguiu, com louvor, a estrada que apenas vislumbrei, e vi se tornando apenas uma tolice infantil, e agora volta pra debochar de mim. Talvez isso se explique por uma coisa que já sinto: uma relativização do tempo e dos anseios. Desejos vão se desagregando e virando desinteresses. De resultado fica a sensação que talvez você se ache bom, meia dúzia de pessoas achem também mas isso não é o bastante. Laerte queria ser cartunista, conseguiu fama, reconhecimento...mas o prazer morreu. O cara que participou da equipe da TV Colosso e trabalha desenhando está insatisfeito.
Acredito que nós temos o desejo de nos sentirmos livres, sustentando a ilusão de que fazemos o que gostamos, e porque gostamos. Do mesmo modo, a obrigação e a repetição nos afasta desse tesão pelas coisas. A grande dificuldade entre juntar a realização profissional com a realização pessoal. Eu, acho incabivel separa-las. A vida é a profissão, ou grande parte dela. Dá pra ser feliz vivendo eternamente só imaginando como seria um emprego melhor? E se depois de ser alguma coisa, isso ainda não for o suficiente?
É como se a vida tivesse que nos conquistar todos os dias...

Um comentário:

Alessandra Melo disse...
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