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Retirado da compilação Laertevisão |
Fui tentado a ler uma entrevista com o cartunista Laerte Coutinho. Mesmo sem ligar de imediato o nome a pessoa, confesso que não resisti em entender porque diabos o cartunista estaria ali vestido de mulher.
Enfim...
Com o Laerte, não sei o que passa. As mentes que se julgam mais sensatas tendem a dizer que o fator causa do cartunista se comportar de modo arredio para com sua obra e a pratica do cross tem fundamento na perda do filho. De fato, ver o filho morrer deve ser uma dor incomensurável para qualquer pai, mas não acredito que Laerte tenha ficado maluco. Acredito sim que isto tenha sido uma grande pedra, amontoada a outras tantas que o fizeram pensar no real sentido da vida.
Video-entrevista com Laerte para a revista Bravo!, falando sobre o Crossdressing
Voltando, este miolo foi que ficou zumbindo na minha cabeça. Laerte, 40 anos de carreira tem a coragem de dizer na minha cara que não tem mais tesão pelo que faz. Quadrinhista era meu sonho de moleque, sonho que desencantei de pensar nas (im)possibilidades técnicas e de mercado. Claro que não foi algo que atrofiei por medo do risco; nem botei na mesma gaveta onde guardei os sonhos de ser astronauta, magico de circo e fuzileiro americano. Se bem que bonzão nunca fui, mas isso não me impediu de extravasar minha vontade de criar e dar formas a personagens, e nessa parte agradeço meu grande amigo Matheus (uma grande historia que fica pra mais tarde).
O problema está em que Laerte seguiu, com louvor, a estrada que apenas vislumbrei, e vi se tornando apenas uma tolice infantil, e agora volta pra debochar de mim. Talvez isso se explique por uma coisa que já sinto: uma relativização do tempo e dos anseios. Desejos vão se desagregando e virando desinteresses. De resultado fica a sensação que talvez você se ache bom, meia dúzia de pessoas achem também mas isso não é o bastante. Laerte queria ser cartunista, conseguiu fama, reconhecimento...mas o prazer morreu. O cara que participou da equipe da TV Colosso e trabalha desenhando está insatisfeito.
Acredito que nós temos o desejo de nos sentirmos livres, sustentando a ilusão de que fazemos o que gostamos, e porque gostamos. Do mesmo modo, a obrigação e a repetição nos afasta desse tesão pelas coisas. A grande dificuldade entre juntar a realização profissional com a realização pessoal. Eu, acho incabivel separa-las. A vida é a profissão, ou grande parte dela. Dá pra ser feliz vivendo eternamente só imaginando como seria um emprego melhor? E se depois de ser alguma coisa, isso ainda não for o suficiente?
É como se a vida tivesse que nos conquistar todos os dias...
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