29.1.10

Holden & Eu (Adeus Salinger, ou coisa que valha).

Ele solidificou parte do que sou e parte do que pretendo ser.Pra muitas pessoas que conheço, parece tolice por um peso desse em um livro.Não é minha única fonte, não faço a ele um culto cego."Apanhador no campo de centeio" é simplesmente o livro que mais me realizou em todos estes anos.Me realizou, me chocou, me abriu os olhos, e sobretudo, me afagou dizendo "Não tenha medo.Erre duas, três..vinte vezes.Tente, e se perder, chore.Só idiotas não admitem suas falhas, por medo de serem alvo de piadas.Deixe que se achem alguma merda mais importante.A maior coisa que você pode fazer, é ser você mesmo, sempre".O que J.D. Salinger escreveu nos anos cinquenta se incrustou firme nos meus miolos.Estou entrando no palco da vida praticamente agora.Jerome David Salinger morreu de causas naturais nesta quarta, 27 de janeiro de 2010.
Holden tropeçou na minha vida por um acaso.Um dos melhores acasos nesses 18 anos.Procurando algo na biblioteca, parei no topo da prateleira de romances norte americanos.Apanhador no campo de centeio me soava algo meio serial killer, mas fiz uma alusão mais rápida.Na capa, uma luva e uma luva de baseball.Obviamente era esse tipo de apanhador.
Quem realmente me incentivou a ler foi Fabio Altro, pois sua opinião muito pesa pra mim.Eu virei amigo de Holden.Por três semanas, eu lia Holden no curso, na escola, em casa e no ónibus.Holden me fazia rir e me sentir ridículo.Um amigo.
Holden era herói pra varias pessoas, vim a saber.
Quando me debrucei pra saber, Apanhador no campo de centeio era um dos livros mais influentes do século.Uma literatura rápida e inteligente.Os palavrões, girias e atitudes do garoto rebelde de 17 anos não soam forçados.Holden é simplesmente natural.Erra, sente ódio, tem libido, fica triste, erra, erra, tenta e erra.Holden é um garoto americano dos anos 50, voltando pra casa e refletindo sobre como o mundo e sujo e como ele é um covarde.Pois covarde todos somos.Alguns fingem que não, esses são covardes ridículos.



Salinger por sua vez se fechou depois que criou Holden.Não quis se jogar na midia, por mais aclamado que fosse seu livro.Nunca gostou de entrevistas, nunca vendeu os direitos do seu livro pra nada.Como ele disse, a historia é aquela, se você quer mais, leia de novo e de novo.Eu li, e gostaria de agradecer a Salinger por seu trabalho.Olhando agora, eu também me sinto as vezes como Holden.
Apanhador no campo de centeio não me fez sentir melhor que ninguém, mas me fez sentir pareo pra qualquer um.

20.1.10

O Haiti não é aqui.

Eu realmente pensei em nomear esse post com "Reze pelo Haiti", mas sei lá, parece muito simples.Além do mais, sempre achei o Caetano com um timbre meio sarcástico nessa frase.Soa um tanto como "o melhor que você pode fazer por aqueles pobres desgraçados é rezar".Eu tenho trauma em admitir esse tipo de verdade.
Acho que a calamidade todo mundo já sabe, literalmente.Terça feira 12, um terremoto catastrofico destruiu o Haiti.O país de maioria negra já era o mais pobre das Américas, foi ainda mais reduzido.Depois de governos corruptos, ditaduras e perseguições; um tremor de terra vem levar a baixo parte do que ajudas humanitárias estavam tentando levantar.
As imagens divulgadas são de dar tristeza em qualquer um que realmente dá importância.Pessoas se esgueirando em meio a entulho, pilhas de corpos...não quero por nada aqui pra não parecer sensacionalista.As imagens e informações estão aqui, se quiser.
Dando continuidade ao seu trabalho em conjunto com a ONU, o Brasil continua enviando ajuda militar.Vários pelotões com médicos, remédios, bombeiros e militares indo pra ajudar, o que me faz até sentir reflexivo sobre o que eu faço realmente sobre meu país, uma vez que não quero servir.
Sobre isso que no meu entendimento fala a musica de Caetano que está sendo resgatada nesse momento de dor: O que você faz pelo Brasil.Ouvi a musica pela primeira vez faz uns dois, três anos numa aula e me parecia intrigante como, apesar do nome, a musica fala sobre problemas locais.A musica, um rap de Caetano e Gil, parece brincar com um comentário sobre a turbulência do nosso país."Vai ajudar o Haiti pra que? Aqui também tem trafico, tem gente morrendo de fome também".Isso pra mim fica concreto no refrão, que pra alguns parece bobo "O Haiti é aqui/O Haiti não é aqui".Aqui também é um pais de "quase todos pretos" e pobres.

São muitas similariedades, mas algumas diferenças gritantes.Enquanto o Haiti é o mais pobre da América, já o Brasil vem despontando como potencia.Saindo do âmbito de se é digno ou não o país enviar suas tropas, a musica julga o nosso nacionalismo.Depois de descrever uma cena de negros sendo espancados por uma herança escravocrata, a letra joga varias situações em que deixamos passar impune aqui mesmo, pra depois nos reclamarmos de "aqui ser igual o Haiti".
Algo dirigido pras mesmas pessoas que acham bonito fazer pose de revolucionario e dizer "todos políticos, tomem no cu", mas não dariam seu sangue pra mudar a alguma coisa.
Se você pode, ajude o Brasil, aqui ainda não é o Haiti, tem chance.Se você acha que não tem vocação pra Che Guevara, viva sua vida sem prejudicar ninguém, ao menos.
Se pode ajudar o haiti, procure alguma forma.Existe muita necessidade.
Se lembrar, também reze, seja pedindo, seja agradecendo.

15.1.10

Acho que está na hora de voltar, porque aqui é o meu lugar.Alguns dias passaram e algumas coisas aconteceram, eu que estive muito mole pra escrever alguma coisa.Mole, com sono e chateado.Sem querer tenho esses momentos de amazed.
Reveillon é aquele lance, "os fogos em Copa".É eu fui, e toda aquela gente de branco também.A partir de Botafogo já dava pra ver os grupos se deslocando.Quanto mais perto, mais gente e mais aglutinada era a multidão.Com tudo fechado e uma massa harmonicamente trajando branco, me senti num filme de infestações de zumbi.
Ainda na capital carioca, faz muito calor.Muito mesmo.Choveu amenizou, dá até pra encher uma caneca de café e por mais um rock maldito pra tocar, daqueles que eu amo.
Talvez volte aquele calor derretedor.Provável.
No mais, felicidade pra todo mundo que quiser.É um novo ano, talvez seja tempo de tentar consertar ou aparar o que ficou errado.
Obrigado se você vem aqui, ou se não vem também, sei lá.Vou levando aqui e se eu tiver mais paciência eu escrevo mais.Depois, é claro.
Vou curtindo novas bandas, velhos filmes, textos perdidos.Feliz 2010 e boa sorte.



"O meu coração não reconhece a luz do dia"